O fim do segundo período monárquico brasileiro deu início a uma nova configuração social e política, processo acompanhado da embrionária Segunda Revolução Industrial Européia. O Brasil progressivamente se inseria no contexto urbano de desenvolvimento e vivência, aumentado o consciente populacional e a participação política da população. Nesse período houve também um exponencial crescimento na produção de café, que gerou capital suficiente para se iniciar investimentos na carente e primária infra-estrutura brasileira. O Brasil então começava a crescer em termos econômicos e sociais, sendo influenciado pela conjuntura mundial da época.
A sociologia no Brasil começou seu primeiro desenvolvimento no século XX e alguns críticos brasileiros iniciaram estudos em assuntos sob uma concepção positivista. A teoria do fato social de Durkheim, aspectos do pensamento etnográfico de Ratzel, e outros são exemplos dessa primeira influência. Dentre os primeiros estudiosos destacamos: Sílvio Romero, Paulo Egídio, Euclides da Cunha e Oliveira Viana. Este período foi marcado por fortes contribuições recebidas pelo Brasil que vinham ao encontro de uma sociedade nacionalista, e agora, intelectual, somando-se a isso o estabelecimento da classe burguesa brasileira. Esses fatores foram: a pressão comercial britânica, que pôs fim ao tráfico de escravos, aumentando o fluxo migratório europeu para o Brasil; a proclamação da república com bases positivistas; e reformas que modificavam as conjunturas políticas e sociais mais latentes.
Com o estabelecimento da classe burguesa brasileira algumas medidas ou projetos ideológicos foram surgindo, como, a modernização nacional, as medidas protecionistas, e a procura por uma identidade cultural nacional, entre outros exemplos. O pensamento sociológico no Brasil foi oriundo de uma síntese dessas circunstâncias com os estudos históricos, literários e reflexão sociológica. As três primeiras décadas do século XIX foram palcos para o pensamento sociológico embrionário.
As diversas reformas no ensino brasileiro foram as portas para introdução da disciplina de sociologia, de formação clássica no ensino básico, o que foi sequenciado posteriormente na formação universitária. Alguns estudiosos tiveram suas formações em outros países e introduziram no Brasil suas ideias, dentre esses se destacam: Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior, Fernando Azevedo e Sérgio Buarque de Holanda. Na década de 1930 Getúlio Vargas, imbuído de uma concepção burguesa, tentou fortalecer o poder do executivo e do Estado a fim de modernizar o processo capitalista no Brasil, o que levou à fundação dos primeiros cursos superiores voltados para a área sociológica. Esses cursos contaram com a participação maciça de professores estrangeiros, em especial europeus, formando a primeira geração de sociólogos nos anos 30 e 40, dando continuidade em posteriores gerações. Esse passo foi fundamental para a constituição da sociologia brasileira, pelo menos para a formação de um grupo voltado para essa disciplina, mas ela ainda carecia de uma consolidação teórico-científica-metodológica mais própria ou genuína.
Na segunda metade do século XX, partícipe da primeira geração de sociólogos brasileiros, destaca-se Florestan Fernandes, que defendia que sociologia havia tomado duas macros vertentes: (I) econômica, voltada para o estudo do desenvolvimento; e (II) sociológica, que se dividiu em experiência paulista e visão nacionalista. Florestan Fernandes se dedicou a aspectos estruturais, tais como formação das classes sociais, advento e efeitos do capitalismo e evolução histórica da sociedade brasileira. Florestan foi um sociólogo dedicado e não se eximiu de elaborar um rigoroso trabalho teórico-científico, e apesar desta ocupação, não deixava de se envolver na prática política e na militância. Ele recebeu influência de Marx, Lênin, Dobb, Baran e Sweezy, contudo, a maneira como absorvia essas influências passava por um crivo pessoal e meticuloso, prática essa que lhe possibilitou sua produção genuína, singular à realidade e história brasileira. A sociologia em Florestan se dava a partir de uma análise estrutural da sociedade, sendo seu objetivo nuclear a dominação burguesa e as alternativas de emancipação a essa dominação. Para Florestan, segundo Francisco de Oliveira, os estágios de desenvolvimento convencionados pela sociedade não existiam, mas sim uma forma de objetivação do capitalismo. Para ele o período colonial, marcado pela dependência do capital estrangeiro, não seria uma fase ou estágio, mas sim uma forma de agir, de como se objetiva o processo. Ele acreditava que a introdução do capital no Brasil se deu de maneira abrupta e não civilizatória, para ele era necessário a manutenção do movimento social, o que modernizaria o sistema social e tornaria a sociedade mais participativa e beneficiária nos/dos processo econômicos e sociais. Assim, Florestan Fernandes se tornou um dos marcos da sociologia brasileira, dando à essa disciplina – ainda recente – um caráter local, singular e que movimentou os conceitos e teorias sociológicas conforme a realidade, cultura e história brasileira.
Referência
FERREIRA, Delson. Manual de Sociologia: dos clássicos à sociedade da informação. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2003.
Como citar este texto:
SANTOS, Harlon Romariz. Resumo do capítulo: “A Construção do Pensamento Sociológico no Brasil”. [S.l]: Blog Observare, 2014. Disponível em: https://observare.slg.br/2013/01/01/resumo-do-capitulo-a-construcao-do-pensamento-sociologico-no-brasil/. Acesso em: dia mês abreviado. ano.