Cultura da Participação

Por Prof. Dr. Kleber Saraiva

      As manifestações populares ocorridas em dias recentes veem demostrar claramente que outra forma de debate e deliberação sobre temas públicos estão se organizando e amadurecendo entre os cidadãos.

     Guardados os casos pontuais de pessoas mais exaltadas que focam suas expressões de indignação equivocadamente na “vandalização” de bens públicos e privados, a sociedade brasileira organizada ao longo de ruas tem dado sinais precisos de que quer participar efetivamente dos debates temáticos locais, regionais e nacionais relevantes para a qualificação das vidas dos brasileiros. Essa insatisfação social organizada tem sido fundamentada na insuficiência de serviços e concessões públicas, legislação e execução de leis, nos excessivos gastos com torneios de futebol, em eventos ininterruptos de corrupção no país, entre outros. Em consequência de todos esses mal feitos tem havido uma recusa sistemática à presença de símbolos partidários e ao modelo de representação que nossa democracia tem efetivado.

     Os manifestantes se organizam para sair em protesto por meio da internet, das redes sociais, portanto, da participação concreta dos sujeitos imediatamente afetados pelos problemas sociais em pauta e que os gestores da vida pública não têm conseguido dissipar. A representação democrática partidária foi progressista em tempos, sobretudo, em que o hábito político era despótico e a população clamava por eleições diretas objetivando incluir em esferas de domínio político, filiados a partidos que a representasse com aplausos.

     Atualmente, os afazeres dos nossos representantes partidários não têm obtido satisfação popular pelos motivos que nos escancaram as manifestações Brasil afora. O brilho que a representação partidária teve em outrora está se apagando, perdendo o apreço e a legitimidade das pessoas porque não obtém os êxitos esperados em contra partida aos altos impostos pagos pelo povo. Com efeito, outra cultura política vem surgindo, amadurecendo no seio da sociedade sem deixar de ser democrática e com muito mais participação popular. Observar e avaliar os manifestantes na frente da TV é salutar, porém, mais importante é sentir no corpo e na alma o que essa multidão de brasileiros vivencia cotidianamente nas estruturas irregulares da política, dos serviços e concessões públicas. A cultura da participação democrática se ergue como progresso e não devemos recusá-la porque será como negar nosso próprio sentimento, voz e vontade de mudar, sem intermediários, o Brasil.

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